segunda-feira, 30 de junho de 2008

Não sei quantas almas tenho.Cada momento mudei.Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.De tanto ser, só tenho alma.Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê.Quem sente não é quem é.
Atento ao que sou e vejo , torno-me eles e não eu.Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;Assisto à minha passagem,Diverso, móbil e só
Não sei sentir-me onde estou.Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,O que passou a esquecer.Noto à margem do que li
O que julguei que senti.Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa.

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