domingo, 19 de março de 2006

"As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental". A clássica frase de Vinícius de Moraes pode soar como uma sentença de morte para muitas mulheres que fogem aos padrões de beleza tradicionais, seja por estarem um pouco acima do peso, por não terem o cabelo da moda ou por um nariz um pouco maior. Mas até que ponto a "feiúra" interfere na vida das mulheres, seja no aspecto sentimental, profissional ou sexual?
Para traçar as agruras que muitas mulheres enfrentam, a escritora gaúcha Cláudia Tajes publicou o livro "A vida sexual da mulher feia", onde ouviu vários depoimentos de quem não se considera nas proporções ideais. Cláudia observou que há uma preocupação excessiva das mulheres por não estarem nos padrões e isso acontece, também, devido ao "massacre" que a mídia faz ao bombardear as pessoas comuns com imagens daquelas chamadas de perfeitas. "Se eu pudesse dizer alguma coisa para consolar quem não nasceu Gisele Bündchen, certamente seria: leia mais, informe-se mais, fique mais interessante. A gente pensa que não, mas ainda tem muita gente nesse mundo que dá valor para uma cabeça boa", ressalta.
Entre as histórias ouvidas, Cláudia destaca uma: "Gostei do depoimento da garota que, maltratada pelos homens por sua suposta feiúra, encontrou por acaso uma mulher que se encantou por ela. As duas acabaram se apaixonando, é uma fábula dos tempos de hoje". Para a escritora, a Internet tem sido uma forte aliada das mulheres "menos privilegiadas". Mas quando o romance avança, as surpresas acontecem. "Quando o parceiro pede para conhecê-la ao vivo, geralmente, a surpresa não é muito boa", diz.
Cláudia Tajes lembrou que o preconceito com as feias existe no mundo todo. No início do mês de janeiro, o jornal The Sun denunciou que o setor de imigração do Reino Unido facilitava o visto para mulheres brasileiras e, principalmente, para as bonitas. Os expedientes das mulheres consideras bonitas eram examinados com rapidez. Um ex-funcionário contou que as imigrantes ditas feias eram alvo de deboche no setor. A foto da feia era pendurada em uma parede para que todos pudessem rir daquela que foi mandada de volta para o seu país de origem.
Para a psicóloga Irani de Lima Argimon, professora de Psicologia da PUCRS, todas as pessoas têm momentos de oscilação da auto-estima. No caso da mulher, a auto-estima é mais abalada quando o lado afetivo não está bem. A briga com o namorado, uma rejeição, a dificuldade em encontrar um parceiro ou a descoberta de uma traição pode desestruturar a mulher. "A primeira pergunta é: o que as outras têm que eu não tenho?".
Depois de ouvir tantas histórias, Cláudia Tajes constatou que feiúra é algo relativo, assim como a própria beleza. Segundo ela, muitas de suas entrevistadas eram até bonitas, mas por estarem um pouco fora do peso ou por não terem o nariz considerado ideal, passavam a se considerar horrível e a se comportar como tal. Por conseqüência, eram tratadas também como feias e se sentiam desvalorizadas. A conclusão dela é de que "está para nascer quem não se sinta feio de vez em quando. Provavelmente, até as supermodelos têm o seu dia de monstro".
Sou feia mas tô na modaA funkeira Tati Quebra Barraco saiu em defesa das feias ao se autodefinir como uma, sem medo e sem vergonha. Dona de um repertório cheio de letras provocantes, a carioca nascida na favela Cidade de Deus lançou o bordão "Sou feia mas tô na moda" em sua própria homenagem, agradando a belas e feiosas. Mesmo se considerando feia, Tati não deixa de lado a vaidade, e gasta boa parte do cachê em roupas. Os cuidados estéticos também fazem parte da rotina atual da cantora, que fez no ano passado uma lipoaspiração e recentemente um implante de silicone, do qual ainda está em fase de recuperação.
Na rede de relacionamentos Orkut, na Internet, é possível encontrar várias comunidades sobre o assunto. De um lado, as que defendem as feias e ressaltam suas outras qualidades: "Sou feia mas sou legal", "Eu gosto de mulher feia". De outro, as que adotam um tom mais agressivo: "Odeio Mulher Feia", "Mulher feia é na pedrada". Nelas, há desde o desabafo de jovens que não se conformam por não ter um corpo escultural e por terem dificuldades em arranjar namorado até piadinhas machistas e competições para ver quem é a mais feia do grupo de participantes.
Passeando pelas comunidades e observando as fotos das integrantes não há como não concordar com a escritora Cláudia Tajes. Muitas mulheres se acham horríveis, a pior do mundo, quando não o são, e deixam de destacar o que têm de melhor. Que tal parar com a frescura e fazer as pazes consigo mesma e com o espelho, e aproveitar o que tem de bom?

(Matéria do Portal Terra-mulher)


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